Páginas

terça-feira, 30 de junho de 2015

Pincuejo 2015

Mais uma vez o Clube deslocou-se á bonita zona de Caldas de Luna e numa visita relâmpago passou uma agradável jornada de escalada, com a repetição de 3 vias por parte dos atletas do Clube. Aqui fica a reportagem fotográfica.
 A trupe, da esq. para a drt.:
Vasco (Ninja), Luís, Diogo, Balsa (em cima), Animado (em baixo) e Bruno.











 Como de costume, o regresso :-) 

domingo, 28 de junho de 2015

Evocação de uma jornada épica

Vagueando pelo historial do clube, deparei com uma maravilhosa crónica de uma escalada no Pico Urriello, publicada no saudoso Jornal de Vilarelho "Eito Fora". Sem mais comentários - e para que a memória não esqueça, aqui fica o artigo completo.


volta ao index das edições de 1999
um jornal? uma revista?
edição n.º 9aventuraTEXTO E FOTOS: paulo de carvalho 
editorial
destaque
perfil
entrevista
património
aventura
cartoon
opinião 1
opinião 2
anacrónicas 1
anacrónicas 2
anacrónicas 3
gato das botas
transmont. online
ensaio
poesia
apartado 51
caricatura

Colaboradores neste número: Anabela Pinto, Anabela Ribeiro, Carla Santos, Dina Cruz, Eugénio Branco, Fernando Gouveia, José Ferreira Borges, Gil Silva, Luísa Costa, Luís C. Teixeira, Manuel Chaves, Manuel Guimarães, O. Moscardov, Paula Pestana, Paulo de Carvalho, Paulo Mourão, Pedro Martins Colaço, Rui Duarte, Troglodýtes Troglodýtikós
escalada No final de Agosto, a secção de montanhismo do Grupo Desportivo e Cultural de Vilarelho realizou mais uma excursão aos Picos de Europa. (Antes, tinha sido feita a excursão ao Monte Branco, nos Alpes. Devido às más condições climatéricas, não foi possível cumprir em pleno o programa desta expedição).
O ponto alto (literalmente) da ida aos Picos seria passar a noite no cume do Naranjo de Bulnes, a 2519m de altitude e a 560 metros de desnível em relação ao refúgio de montanha. Mas antes havia que escalar a parede Poente, com 250 metros. Pela pena de Paulo de Carvalho, um dos elementos que integrava a equipa que se deslocou à cordilheira Cantábrica e neófito escalador, apresentamos aqui o relato da experiência.










na montanha
Vega,
uma estrela problemática

Apologistas dos ideais românticos ou não, partimos durante o crepúsculo matutino, de Vilela da Cabugueira com destino à pátria de "nuestros hermanos". Era o dia 20 de Agosto e éramos cinco: Natalina Dias, Valdemar Chaves, José Alegre, Rui Pedro e eu.
O espírito de aventura era grande e o entusiasmo ainda maior. No entanto, após a troca de umas escassas e tímidas palavras, tanto eu como o Rui, ocupantes da retaguarda do veículo que nos transportava, resolvemos concluir o sono interrompido ainda no reino da noite.
Depois de uma curta paragem para cumprir algumas necessidades fisiológicas, e a passagem por Rianho, onde se evidencia já o relevo montanhoso, chegámos a Arenas de Cabrales.
Aqui almoçámos e daqui partimos para Collado Pandiliano, o último lugar acessível por automóvel. Abandonamos a carrinha e iniciamos a subida até ao refúgio de montanha, onde pernoitaríamos e findaria a primeira etapa.
Concluída a lógica distribuição do material que iria ser indispensável para a escalada, era dada a altura de pormos à prova a nossa resistência física com uma pesadíssima mochila às costas e um percurso pedestre com aproximadamente 7 km a separar-nos do objectivo desse dia.
Entre algumas recitações poéticas de Pessoa (ortónimo e heterónimo) e algumas paragens, necessárias para folgar e abastecer o nosso fatigado corpo, a caminhada, que se esperava de uma dureza terrível, foi-se-nos tornando estoicamente suportável e até aprazível.
A dada altura, os pensamentos, um pouco conturbados pelo desgaste físico e pelo espesso nevoeiro que pesava sobre nós, dissiparam-se, pois, subitamente o nevoeiro apeou-se. Um estado de ansiedade invadiu-me. O Naranjo de Bulnes, nosso objectivo, era já, não uma miragem, mas uma realidade perceptível a olho nu.
A noite caiu e, após inúmeras vezes termos perguntado, motivados pelo cansaço, quanto faltava percorrer, alcançámos o céu... Perdão, o refúgio. Libertados das supliciantes mochilas e desejosos de doar ao nosso corpo o merecido descanso, rapidamente montámos as tendas onde dormiríamos, excepto o Valdemar, que cedeu à apetência de dormir ao relento.
Sem saber o que o dia seguinte me reservava, mas na ânsia de viver o inesperado, a noite tornou-se-me longa. Entretanto o dia chegou e com ele um sol luzente. Pelo menos era esta a sensação adquirida do interior da tenda onde dormitei, e tal confirmou-se quando sai para o exterior. Aí, bem ao nosso lado, deparava-se-nos, com supremacia, e ostentação a elevação Naranjo de Bulnes. Foi-me então possível, pela primeira vez, ver in loco aquilo que me tinha proposto escalar.
Depois de tomar o pequeno almoço havia que proceder-se à selecção minuciosa dos apetrechos necessários, tendo em conta que o objectivo era passar a noite no cume do Naranjo, e absolutamente indispensáveis, atendendo às dificuldades que adviriam na escalada devido ao excesso de bagagem.
A perfeição do meio envolvente permitiu-me ascender a uma outra dimensão, um outro mundo: o mundo do montanhismo. Mundo onde prevalecem conceitos universais de respeito, simpatia, humildade e até amizade, não só para com o homem, mas também para com a natureza.
O espírito de grupo era grande. O afecto e a harmonia dominavam. Foi com estes sentimentos que partimos, a pé, é claro, contornando o pilar com que nos deparávamos. Apesar de o percurso ter fases de difícil ascensão, tudo se superou, e após algumas horas percorridas, sentámo-nos para almoçar, defronte daquela que seria a via que nós escalaríamos, de seu nome "Directa de los Martinez".
Terminado o almoço, do qual constou um saboroso salpicão caseiro e o restante de outro, era dada altura de nos aproximarmos do início da via e aguardar pela nossa vez. Preparámos o material para subir a via, considerada fácil pelos entendidos, mas com um ar intimidador para quem ousava escalar pela primeira vez na vida. Apesar disso, força de vontade não faltou, e mal o primeiro a partir (o Valdemar) alcançou a primeira reunião, eu, energicamente, iniciei a minha longa e árdua ascensão. Percorridos três ou quatro metros, o desgaste, físico e psicológico, era evidente. Era dado o momento de começar a pensar e a agir mais pausadamente, evitando assim o cansaço — conselho daqueles que me apoiavam cá de baixo, sobretudo o José e o Rui.
Atendendo ao número de escaladores que éramos e, sobretudo, à minha inexperiência, o tempo passou rapidamente. O cair da noite apanhou-nos na subida, e o percurso tornava-se mais difícil. Principalmente para o Rui e a Natalina que eram os últimos da cordada. Todavia não me posso esquecer da ajuda preciosa do magnífico luar que nos iluminava a via, ainda que insuficientemente. Entretanto uma espécie de redobramento das forças pareceu abater-se sobre os colegas que me sucediam, dada a ligeireza e aparente facilidade com que chegavam às reuniões.
Pelo caminho, os muitos escaladores que já desciam em rappel ficavam surpreendidos com a nossa intenção de pernoitarmos lá em cima. "Dormir arriba?!!", perguntavam espantados.
Com algum sacrifício acabámos por chegar ao cimo, onde o vento frio enregelava o nosso amigo Valdemar, que de imediato se enfiou no seu saco-cama. Sem grande tempo para as emoções de ter chegado ao cume, procurámos o sítio onde iríamos bivacar, transportámos para lá as mochilas e tratámos de tornar mais aconchegante o bivaque onde ficaríamos. De seguida, rapidamente se estenderam as esteiras e cada um enfiou-se no seu saco-cama.
Depois de comermos e bebermos alguma coisa, já deitados, paralelamente e voltados para o céu, no exíguo terreno disponível no alto do Naranjo de Bulnes, ainda houve espaço para uma discussão acerca da localização da estrela Vega. Um dos interessados investigadores do astro em causa revelou, a dada altura, que tinha identificado, naquele emaranhado fantástico de pontos de luz, um triângulo de quatro estrelas. Houve gargalhada geral, mas, minutos volvidos concluiu-se que os intervenientes tinham ambos razão, num dos lados do clássico triângulo brilhava uma quarta estrela.
Com o raiar do dia, o sol, que começava a nascer, ia incidindo nos nossos rostos. Uma sensação orgástica era o que provinha do espectáculo que eu presenciava e do olhar que lançava às montanhas em redor, sabendo-me mais alto do que todas. Que loucura... Não há palavras que descrevam este sentimento. Pura e simplesmente se vive e sente.
Após tomarmos o pequeno almoço, era dado o momento de ascendermos até ao ponto mais alto do Naranjo, com 2519 metros de altitude, para aí festejarmos, solidariamente, os dez anos da primeira ascensão ao Naranjo por parte do nosso amigo José Alegre. Alegre mesmo. Feita a comemoração com um brinde de champanhe adocicado, trocámos algumas impressões com dois espanhóis madrugadores que acabavam de subir e que ficaram estupefactos ao nos verem.
— Por onde subistes?
— Pelo mesmo lugar que vós — respondeu um dos nossos.
— Quando?
— Ontem — volveu o mesmo.
— Ahh!... E dormistes aqui?!!
— Sim.
— "Que bien!!!"
Arrumadas as coisas, começámos a descer. Feitos aproximadamente cem metros, começou a ouvir-se, distante de nós, alguém falar a nossa língua. Ironia do destino, o Rui, depois de perguntar a quem falava o nosso idioma se eram portugueses, encontrou neles um amigo seu do tempo dos escuteiros, que já não via há sete anos.
Prosseguindo o caminho, chegámos à reunião onde iniciámos a descida em rappel, coisa que no dia transacto eu dissera temer mais do que a escalada. Puro engano, para baixo todos os santos ajudam e aquilo que parecia difícil tornou-se no mais fácil. Horas depois, retornávamos, em sentido inverso, o carreiro percorrido no dia anterior e que nos levou até ao refúgio, onde pernoitámos.
No dia seguinte, restabelecidas as energias perdidas, partimos em busca da intacta aldeia de Bulnes. Entre imprevistas quedas e uma torção de pé do Rui, chegámos ao paraíso perdido entre as montanhas no maciço central dos Picos de Europa. Daí, sempre por um carreiro paralelo a paisagens edénicas, seguimos para Poncebos, onde findaria a aventura dos cinco magníficos. Passe a imodéstia